quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Crua

Deixa a lágrima cair
Deixa mesmo que seja cena.
Geme baixo sua dor de dúvida,
Transpira todo gelo desse coração
Paralisado,
Que evita, levita e evita.


Grita,
Porque você não sabe pintar nem tocar nada.
Abafa porque você não tem palco.
E lamenta,
Porque muito se perdeu.
A vida passa e você sufoca desejos,
Canta sozinha seu mantra de compaixão.
Com todo respeito, você se admira,
Levita e se evita
Porque pra você não sobrou espelho
E nem vestido amarelo.


A generosidade não é bonita!!
Você dá seus sonhos a qualquer um
Em troca de passageiros elogios.
Em troca de admiradores que esquecem seu nome,
Esquecem suas cores
E nunca fizeram as perguntas que você tanto ensaiou responder.
Isso é porque eles não se interessam.
Eles não querem nada além do que seus favores.
Eles não guardam o teu cheiro,
Não estudam os seus detalhes
E não se importam se você não dorme.


Você não escreve porque sabe que é tolice
Num mundo de poetas ignorantes.
Seu ego é tão confuso quanto teu corpo
Que não sabe se quer gordo ou magro,
Dourado ou pálido.
E quem hoje quer saber o que uma semi-deusa e uma meia morta pensa?


Desabafa que passa,
Depois apaga que passa um pouco mais.
Porque se guarda, quer passar [à limpo]
E enfeita demais a história,
Camufla demais as falhas,
Inibe demais os gozos.
Porque você se preocupa o tempo todo
Em demonstrar que não se importa
Nem com os pensamentos, nem com pensadores.
Nem a ortografia,
Nem os elogios.
Você não se sabe
E faz de conta não querer saber.
Evita os estudos,
A psicanálise,
O reflexo.
Mas, na sua solidão, bem menos silenciosa que a realidade,
Você se olha, levita e se olha.


Mesmo tendo medo de inflar
Ou sentir pena,
Olha, levita e fecha os olhos.
Fantasioso repudio!!
Você me da nojo
Porque é medrosa
E o campo minado em que pisas é repleto de margaridas,
Pólvora e flores.
Você me enjoa.
Porque inventou um novo idioma
E não o ensina pra mais ninguém
Por medo de perder a exclusividade.
E o fala baixo,
Quase num sussurro,
Por não querer que alguém o decifre.
Porque você subestima tudo,
Até você mesma.


Cobra de Deus sonhos tão possíveis
Porque sua fé não chega nem na calçada da igreja.
E se volta até contra a genética
Por não ter o pouco que quer.
O que você não sabe "bela princesa"
É que esperar não é para ansiosos
Assim como não é para a fome.


Já se foi a velha lágrima,
Já mudou mais uma vez o discurso,
Já veio novamente a pretensão
E a busca por palavras cretinas.
Essas que os pseudo-qualquer-coisa gostam de usar.
Esqueces mesmo tudo tão rápido!!


Você é rio  de alegria e afoga sua grande dor em ti  mesma
E se banha nisso,
E bebe disso,
Se espelha nisso
E brinca de peixe pra ninguém notar
Sua mistura de águas.
Miserável contentamento,
Miserável comodismo.
Miserável e maldita lágrima,
Que no meio do choro, repara que não sabe a razão da dor
E volta a sorrir.
Se sentindo boba e estéril.

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